Projeto esportivo une acrobacia e arte para ressignificar traumas e dores em Niterói

Nos finais de semana de 18 e 19 de outubro e de 1 e 2 de novembro, as pessoas poderão conhecer um pouco do trabalho de uma menina paulista apaixonada pelo circo que vem transformando a vida de mulheres em Niterói.“Penduradas” nas alturas por liras, trapézios e tecidos, essas mulheres ganham força muscular, mas, muito mais que isso, veem suas vidas impactadas por uma nova forma de enxergarem a si mesmas. Essa é a experiência de quem escolhe o Projeto Pendurados, criado por Juliana Berti, que irá apresentar nessas datas o espetáculo “Sozinhas somos pétalas, juntas somos rosas”,que abordará, por meio dos movimentos corporais, o enfrentamento a diversas formas de violência. As apresentações acontecerão na Praia de Icaraí, Horto do Barreto, Charitas e Itaipu.
“Parece que existe uma Thayla pré-tecido e uma pós. Eu sempre tive medo de altura. Confesso que nem pensei muito sobre isso quando decidi experimentar as aulas. Mas, conforme fui avançando no esporte, me tornei pouco a pouco uma pessoa mais corajosa, não só no tecido como na minha vida de forma geral. Gosto mais de me desafiar em coisas novas, percebi que me tornei uma pessoa mais comunicativa e receptiva ao contato com pessoas desconhecidas. Apesar de o tecido ser um esporte “individual”, todos se apoiam, se incentivam, ensinam e ajudam nas dificuldades. Quando você consegue fazer uma figura ou queda nova, todas vibram e comemoram. O grande diferencial é que, além de fortalecer o corpo, você também sente sua alma nutrida pela parte artística. Fora que fazer uma atividade tão gostosa na areia da praia e com o cenário de fundo lindo do mar faz toda a diferença”.
Esse depoimento é da psicóloga Thayla Muniz, de 31 anos, sobre o projeto Pendurados Acrobacias Circenses, que frequenta desde 2022 e que foi criado, em Niterói, por Juliana Berti, em 2020, durante a pandemia de Covid.
Juliana Berti cresceu apaixonada pelos circos aos quais foi apresentada pelo pai, até que, com 10 anos, ao ver, num dos espetáculos circenses em Arraial do Cabo, um homem cuspindo fogo, decidiu que queria conciliar as aulas de ginástica com as de circo. Acabou se tornando professora da Escola Nacional de Circo e, nessa condição, chegou a Niterói.
“Vim para Niterói com o propósito de trazer uma escola de circo de excelência e segura. Criei o Projeto Pendurados em 2020, em plena pandemia de Covid. E hoje, cinco anos depois, tenho muito orgulho do que criei e do que nós nos transformamos, pois aprendi com o circo que, sozinho, você não levanta uma lona. O Pendurados hoje é referência, reúne um grupo de pessoas – na maioria mulheres, os homens ainda são cerca de 2% dos alunos – fortes, empoderadas, mais seguras de si”, afirma.
Além das aulas diárias, de segunda a sexta-feira, na Praia de Icaraí, das 6h30 às 9h e das 18h às 20h, o projeto Pendurados Acrobacias Circencesmontou, em 2023, seu primeiro espetáculo: Marcas do Passado, abordando a violência doméstica.
“Resolvemos abordar frontalmente o problema sem ser subliminar. Reunimos um público de cerca de 300 pessoas que se emocionaram profundamente. Foi uma verdadeira catarse, tanto que, logo ao final do espetáculo, nos pediram para não parar. E, aí, neste ano temos o “Sozinhas somos pétalas, juntas somos rosas” que não é a continuação do primeiro, mas uma forma de continuarmos a abordar e combater a violência em suas mais diversas formas”, afirma Juliana Berti
O espetáculo “Sozinha Somos Pétalas, Juntas Somos Rosas”, que reunirá alunas regulares do Pendurados, além de bolsistas que chegam ao projeto por meio do apoio da Secretaria Municipal de Esporte e Lazer, tem na dramaturgia Juliana Berti e Raphael Pompeu, que também responde pela direção de movimentos, e os artistas Daniel Leubach, Mila Werneck, Maria Julia Teixeira de Macedo e Julia Kassuga.
Os movimentos no palco, sem dúvida, serão influenciados pelas aulas, que usam a lira e tecidos como aparelhos, são baseadas em princípios da educação somática e consciência corporal, e incentivam os participantes a explorar seus corpos de maneira consciente e criativa. A prática da acrobacia aérea exige concentração, confiança e trabalho em equipe, promovendo habilidades sócio emocionais importantes.
“O corpo fala, ele grita com a lira, os tecidos e o trapézio. As mulheres conseguem usá-los como válvulas de escape, uma experiência transformadora. Isso ressignifica traumas, desperta a autoconfiança e impacta no que elas conseguem fazer”, explica Juliana Berti.
Sua explicação é referendada pela experiência de uma de suas alunas a estudante de Direito, Mariane Kaori, de 20 anos, que conheceu o projeto Pendurados por meio das redes sociais, foi atraída pelo fato dele ter a praia como cenário para as aulas, resolveu fazer uma aula experimental e, desde então, não saiu mais. E isso vai fazer um ano.
“Quando eu era criança, cheguei a fazer algumas aulas desse tipo e me apaixonei. Sempre amei o circo e essas aulas são uma forma de me manter ativa de uma forma especial e bonita. Fisicamente, ganhei força, resistência e mais vontade de cuidar de mim mesma. Mas, ao mesmo tempo, me sinto muito acolhida pelo projeto e por todos que participam. É uma troca muito especial, todo mundo se ajuda e vibra com a conquista do outro. Percebo uma mudança enorme também no meu lado mental: me sinto mais disposta, mais feliz, mais confiante e mais aberta. Essa troca de energia me fez crescer e me inspira a tentar fazer com que os outros se sintam da mesma maneira”, afirma.
Serviço
“Sozinhas somos pétalas, juntas somos rosas”
18/10 – Praia de Icaraí, em frente à Rua Gal Pereira da Silva – 9h
19/10 – Horto do Barreto, Rua Dr. Luiz Palmier, s/nº – 11h
1/11 – Campo de Futebol de Charitas, Av. Prefeito Silvio Picanço – 9h
2/11 – Praça da Vila dos Pescadores, Praia de Itaipu, s/nº – 16h











